Era dia de gira. O terreiro já estava todo limpo e preparado, os médiuns responsáveis pela limpeza daquele dia conversavam alegremente.
O dirigente e os médiuns mais velhos já haviam feito todas as firmezas e podiam agora se juntar aos demais médiuns para um entrosamento maior.
O ambiente era tranqüilo e feliz.
Duas horas antes do início efetivo da sessão começaram a chegar os demais médiuns pertencentes a casa, uns mais efusivos que outros como ocorre em todo grupo, todos se cumprimentam alegremente.
Faltando uma hora para o início dos trabalhos é iniciada a doutrina destinada a assistência e médiuns.
Com a doutrina já quase no fim, eis que chega uma das médiuns novas da casa, com pouco mais de três meses na casa.
Entra quieta e apressada, cumprimenta os irmãos de corrente com um “Oi” geral, um sorriso amarelo e vai direto trocar de roupa. Alguns médiuns se entreolham sem saber o porque daquela irmã nunca se entrosar com eles.
Chega sempre em cima da hora da sessão, nunca se oferece para ajudar na faxina do terreiro e nem participa das obras assistenciais. Mesmo em trabalhos internos, entra muda e sai calada.
Essa atitude dela vem já causando algum desconforto entre alguns médiuns, que resolvem, com a “melhor das boas intenções” perguntar á mim, faltando menos de 15 minutos para o início da sessão, se eu sei o porque desse “descaso” para com os irmãos e para com a própria Casa.
Como adoro gente curiosa respondo para que deixem a novata em paz...pois ela tem compromissos previamente assumidos que a impedem de estar mais tempo junto de nós. Isso não significa que ela não gosta da Casa ou de nós e lhes pergunto porque não tentam colocá-la mais a vontade em nossa Casa?
Mas médium antigo é mais curioso... e um deles dispara:
- Mas Pai, nem quando ela chega aqui ela fala com a gente direito... Entra muda e sai calada. Assim fica difícil fazer amizade com ela,quando lhe pergunto se já lhe passou pela cabeça que a sua forma de aproximação poderia assustá-la ou afastá-la?
Este médium vai para dentro do terreiro determinado a descobrir os “tais compromissos” e se a nova médium realmente era tímida ou antipática. Afinal, ele trabalhava tanto, fazia tanto pela Casa limpava, fazia faxina, chegava cedo no terreiro, participava das aulas, doutrinas, sessões de desenvolvimento... e tinha o mesmo tratamento que a novata? Recebia de mim o mesmo sorriso, a mesma atenção... Não achava justo isso. Ia dar um jeito de mostrar para mim que eu estava sendo condescendente demais com aquela médium tão inexpressiva e indisciplinada.
Começa a sessão... os trabalhos transcorrem normalmente e a novata incorpora pela primeira vez o seu Caboclo... e diz ao Caboclo Sete flechas: esse Caboclo tá muito satisfeito com o que seu aparelho vem fazendo com minha filha. Ela precisa de muita orientação e amparo. Não permita que turvem os olhos e o coração do seu aparelho com maledicências...
Quando meu caboclo responde:Pode ficar tranqüilo. Meu aparelho já sabe.
O dirigente e os médiuns mais velhos já haviam feito todas as firmezas e podiam agora se juntar aos demais médiuns para um entrosamento maior.
O ambiente era tranqüilo e feliz.
Duas horas antes do início efetivo da sessão começaram a chegar os demais médiuns pertencentes a casa, uns mais efusivos que outros como ocorre em todo grupo, todos se cumprimentam alegremente.
Faltando uma hora para o início dos trabalhos é iniciada a doutrina destinada a assistência e médiuns.
Com a doutrina já quase no fim, eis que chega uma das médiuns novas da casa, com pouco mais de três meses na casa.
Entra quieta e apressada, cumprimenta os irmãos de corrente com um “Oi” geral, um sorriso amarelo e vai direto trocar de roupa. Alguns médiuns se entreolham sem saber o porque daquela irmã nunca se entrosar com eles.
Chega sempre em cima da hora da sessão, nunca se oferece para ajudar na faxina do terreiro e nem participa das obras assistenciais. Mesmo em trabalhos internos, entra muda e sai calada.
Essa atitude dela vem já causando algum desconforto entre alguns médiuns, que resolvem, com a “melhor das boas intenções” perguntar á mim, faltando menos de 15 minutos para o início da sessão, se eu sei o porque desse “descaso” para com os irmãos e para com a própria Casa.
Como adoro gente curiosa respondo para que deixem a novata em paz...pois ela tem compromissos previamente assumidos que a impedem de estar mais tempo junto de nós. Isso não significa que ela não gosta da Casa ou de nós e lhes pergunto porque não tentam colocá-la mais a vontade em nossa Casa?
Mas médium antigo é mais curioso... e um deles dispara:
- Mas Pai, nem quando ela chega aqui ela fala com a gente direito... Entra muda e sai calada. Assim fica difícil fazer amizade com ela,quando lhe pergunto se já lhe passou pela cabeça que a sua forma de aproximação poderia assustá-la ou afastá-la?
Este médium vai para dentro do terreiro determinado a descobrir os “tais compromissos” e se a nova médium realmente era tímida ou antipática. Afinal, ele trabalhava tanto, fazia tanto pela Casa limpava, fazia faxina, chegava cedo no terreiro, participava das aulas, doutrinas, sessões de desenvolvimento... e tinha o mesmo tratamento que a novata? Recebia de mim o mesmo sorriso, a mesma atenção... Não achava justo isso. Ia dar um jeito de mostrar para mim que eu estava sendo condescendente demais com aquela médium tão inexpressiva e indisciplinada.
Começa a sessão... os trabalhos transcorrem normalmente e a novata incorpora pela primeira vez o seu Caboclo... e diz ao Caboclo Sete flechas: esse Caboclo tá muito satisfeito com o que seu aparelho vem fazendo com minha filha. Ela precisa de muita orientação e amparo. Não permita que turvem os olhos e o coração do seu aparelho com maledicências...
Quando meu caboclo responde:Pode ficar tranqüilo. Meu aparelho já sabe.
Ao ver que a novata havia incorporado, aquele médium mais velho sente aumentar ainda mais a sua
inveja... e pensa “Agora que ela vai ter mais atenção mesmo... se sem incorporar
nada já recebia atenção... agora então...
A sua ansiedade não permitiu que ele mesmo incorporasse seu enviado de Oxóssi. Desequilibrou-se e acabou ficando sem receber as irradiações maravilhosas de seu guia, que tenta exaustivamente chamá-lo a razão, dizendo a seu ouvido:
Meu filho, reflita no real motivo que se empenha tanto em ajudar na Casa. É por humildade ou para “aparecer”. O pai tem que zelar por todos igualmente e é óbvio que irá se preocupar com os que mais necessitam. Abranda o teu coração e sossega teu pensamento para que possa fazer o que devia ser o teu primeiro objetivo aqui... praticar a caridade servindo de aparelho para mim e a tua Banda toda...
Mas nada... o médium mais velho não lhe dava ouvidos. A corrente da Casa já havia anulado a ação dos espíritos trevosos que circundavam o terreiro, mas eles encontravam dificuldade em afastar alguns pois estavam encontrando ressonância de sentimentos no médium mais velho que estava com a “guarda aberta”.
O Caboclo Sete flechas, foi avisado pelos guardiões o que estava se passando. Ele olhou para o médium mais velho que de tão cego que estava não percebeu o olhar do Caboclo. O sêo sete flechas avançou em direção áo médium que cantava pontos sem prestar a menor atenção ao que estava acontecendo a sua volta, pois o seu olhar estava fixo sobre a novata incorporada. Quando deu por conta, sêo sete flechas estava na sua frente... e falou:
- Muleque presta atenção na gira e não em médium. Presta atenção ao seu guia, ele está do seu lado! sempre! Ele tem compromisso com você e com a casa. Você é que está preocupado com coisa que não é para se preocupar e nem saber. Coisa que não deveria ser do seu interesse. Cuida do teu e do que veio fazer aqui!
Este médium fecha os olhos e balança suavemente para frente e para trás... o Sêo sete flechas dá o seu brado e o Caboclo daquele médium se apresenta
Os dois conversam. O sêo sete flechas pede para que este seja enérgico com seu médium, que o oriente a deixar os assuntos que não sejam de sua alçada fora de seus pensamentos. Que não seja intransigente com os irmãos, que controle a sua curiosidade e julgue menos. Que veja todos os irmãos iguais e que se conscientize do seu papel dentro do terreiro e dentro da Umbanda.
O Caboclo do médium promete que irá continuar trabalhando mas que seu médium tem o seu livre arbítrio e pede ajuda nessa tarefa,quando chega o momento do passes e o trabalho transcorre com tranqüilidade.
Ao término da sessão a novata é só sorrisos. Feliz por haver incorporado pela primeira vez o seu Caboclo, quase corre para perto de mim e me abraça agradecida.
Pai, obrigada! As suas palavras ontem me deram novo incentivo, nova vida. Renovaram o meu desejo de crescer, estudar, evoluir. Fiz tudo direitinho conforme a senhora orientou e hoje vi que não estou louca... Cheguei aqui hoje ainda com um pouco de medo. Mas... Ele existe mesmo e a sensação é maravilhosa. Aqui é a minha Casa por que é a Casa Dele. Além do mais, hoje quando fui fazer a entrevista de emprego, me saí tão bem que já começo a trabalhar na segunda-feira e terei mais tempo para me dedicar ao Centro e aos estudos da espiritualidade.
Todos nós passamos por isso, sentimos esse medo, essa insegurança... só que alguns esquecem que um dia foram inseguros e tiveram seus problemas também.neste momento a novata diz ao médium mais velho:gostaria muito de ajudar na limpeza de nosso terreiro e em todas as tarefas disponíveis, agora que arrumei outro emprego e não trabalho mais em dia de sessão. Como posso fazer? Falo com quem? Você sempre foi tão prestativo e atencioso comigo... pode me ajudar?
Felizmente a excitação da novata não permitiu que ela percebesse o quão desconcertado e envergonhado o médium mais velho estava, pois ele ouvira na íntegra a conversa entre o seu Caboclo e o sêo sete flechas e agora ouvia aquilo...
Acho que sorri. Mais uma lição havia sido aprendida por aquele filho tão querido. Me volto para o Congá e me alegro ao olhar a imagem de meu Caboclo e em pensamento digo: “Obrigado Pai! Obrigado Umbanda pela oportunidade do aprendizado constante!”
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A sua ansiedade não permitiu que ele mesmo incorporasse seu enviado de Oxóssi. Desequilibrou-se e acabou ficando sem receber as irradiações maravilhosas de seu guia, que tenta exaustivamente chamá-lo a razão, dizendo a seu ouvido:
Meu filho, reflita no real motivo que se empenha tanto em ajudar na Casa. É por humildade ou para “aparecer”. O pai tem que zelar por todos igualmente e é óbvio que irá se preocupar com os que mais necessitam. Abranda o teu coração e sossega teu pensamento para que possa fazer o que devia ser o teu primeiro objetivo aqui... praticar a caridade servindo de aparelho para mim e a tua Banda toda...
Mas nada... o médium mais velho não lhe dava ouvidos. A corrente da Casa já havia anulado a ação dos espíritos trevosos que circundavam o terreiro, mas eles encontravam dificuldade em afastar alguns pois estavam encontrando ressonância de sentimentos no médium mais velho que estava com a “guarda aberta”.
O Caboclo Sete flechas, foi avisado pelos guardiões o que estava se passando. Ele olhou para o médium mais velho que de tão cego que estava não percebeu o olhar do Caboclo. O sêo sete flechas avançou em direção áo médium que cantava pontos sem prestar a menor atenção ao que estava acontecendo a sua volta, pois o seu olhar estava fixo sobre a novata incorporada. Quando deu por conta, sêo sete flechas estava na sua frente... e falou:
- Muleque presta atenção na gira e não em médium. Presta atenção ao seu guia, ele está do seu lado! sempre! Ele tem compromisso com você e com a casa. Você é que está preocupado com coisa que não é para se preocupar e nem saber. Coisa que não deveria ser do seu interesse. Cuida do teu e do que veio fazer aqui!
Este médium fecha os olhos e balança suavemente para frente e para trás... o Sêo sete flechas dá o seu brado e o Caboclo daquele médium se apresenta
Os dois conversam. O sêo sete flechas pede para que este seja enérgico com seu médium, que o oriente a deixar os assuntos que não sejam de sua alçada fora de seus pensamentos. Que não seja intransigente com os irmãos, que controle a sua curiosidade e julgue menos. Que veja todos os irmãos iguais e que se conscientize do seu papel dentro do terreiro e dentro da Umbanda.
O Caboclo do médium promete que irá continuar trabalhando mas que seu médium tem o seu livre arbítrio e pede ajuda nessa tarefa,quando chega o momento do passes e o trabalho transcorre com tranqüilidade.
Ao término da sessão a novata é só sorrisos. Feliz por haver incorporado pela primeira vez o seu Caboclo, quase corre para perto de mim e me abraça agradecida.
Pai, obrigada! As suas palavras ontem me deram novo incentivo, nova vida. Renovaram o meu desejo de crescer, estudar, evoluir. Fiz tudo direitinho conforme a senhora orientou e hoje vi que não estou louca... Cheguei aqui hoje ainda com um pouco de medo. Mas... Ele existe mesmo e a sensação é maravilhosa. Aqui é a minha Casa por que é a Casa Dele. Além do mais, hoje quando fui fazer a entrevista de emprego, me saí tão bem que já começo a trabalhar na segunda-feira e terei mais tempo para me dedicar ao Centro e aos estudos da espiritualidade.
Todos nós passamos por isso, sentimos esse medo, essa insegurança... só que alguns esquecem que um dia foram inseguros e tiveram seus problemas também.neste momento a novata diz ao médium mais velho:gostaria muito de ajudar na limpeza de nosso terreiro e em todas as tarefas disponíveis, agora que arrumei outro emprego e não trabalho mais em dia de sessão. Como posso fazer? Falo com quem? Você sempre foi tão prestativo e atencioso comigo... pode me ajudar?
Felizmente a excitação da novata não permitiu que ela percebesse o quão desconcertado e envergonhado o médium mais velho estava, pois ele ouvira na íntegra a conversa entre o seu Caboclo e o sêo sete flechas e agora ouvia aquilo...
Acho que sorri. Mais uma lição havia sido aprendida por aquele filho tão querido. Me volto para o Congá e me alegro ao olhar a imagem de meu Caboclo e em pensamento digo: “Obrigado Pai! Obrigado Umbanda pela oportunidade do aprendizado constante!”
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